quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Todos os detalhes do encontro entre Paulo Borges e Anna Wintour. O tema: a saúde das modelos

A reunião do The Council of Fashion Designers of America (CFDA) realizada na noite desta terça feira, dia 9 de fevereiro, em Nova York, destacou que há necessidade das modelos começarem a trabalhar após completarem 16 anos de idade, com o corpo já formado. Este limite já faz parte da rotina e é uma iniciativa do SPFW como a melhor maneira de se combater a magreza das modelos: estabelecer uma idade mínima para a participação das profissionais.

A semana de moda de São Paulo, desde 2008, impôs pioneiramente em todo mundo limite de idade para os desfiles. Com pouca idade, as modelos estão mais magras, e isto gera uma competição com as mais velhas, que emagrecem de maneira inadequada. Na reunião do CFDA, observou-se que hoje o mostruário de roupas das modelos é do tamanho zero, onde apenas pré púberes entram normalmente.

Paulo Borges compareceu ao evento a convite de Anna Wintour, diretora da “Vogue US” que recebeu carta enviada ainda durante o SPFW por Borges para pessoas influentes da moda mundial alertando sobre a necessidade de medidas conjuntas para se discutir a questão da saúde das modelos. “Deu para perceber que todos estão muito preocupados com a questão aqui nos EUA. Anna Wintour ouviu tudo que foi discutido aqui com muita atenção e tenho certeza que ela tomará alguma posição”, comentou o diretor criativo da SPFW e do Fashion Rio.

Logo após a reunião, Borges e Wintour conversaram por vários minutos. Ela agradeceu a presença do brasileiro e fez referência à carta. Além de Wintour, estavam presentes Diane Von Furstenberg, presidente do CFDA, Zac Posen, Aerin Lauder, Doutzen Kroes e vários nomes importantes da moda.

Entre as questões discutidas, a crescente influência dos stylists nos castings foi um ponto importante. Estes profissionais querem levar a imagem das revistas para as passarelas e acabam escolhendo modelos muito magras. Para solucionar este problema, foi proposta que os designers retomem o controle do casting. Também as editoras de moda foram criticadas, por criarem e exigirem imagens exaltando uma magreza irreal. Outra constatação foi que na Europa nada é feito, de forma concreta, para se combater o problema, e por isso as modelos chegam às demais semanas de moda com uma imagem “europeia”- excessivamente magras.

“Tudo foi muito positivo. Teremos outras reuniões com o CFDA e, logo após o Carnaval, vou marcar encontros no Brasil com estilistas e agências para conversarmos a respeito e tomarmos decisões, pois também foi comentado aqui que a cadeia tem muitos elementos, muitos envolvidos e todos tem que participar”, disse Paulo Borges.

A carta que ele enviou obteve muitas respostas positivas além de Wintour. O estilista Kenzo Takada mandou e-mail à Luminosidade no dia 01 de fevereiro: “Nunca discutimos suficientemente sobre este assunto, mas é importante fazermos algo. Com certeza vejo claramente que este tipo de doença não será fácil de combater e por isso apoio sua causa. Ninguém deveria gostar de pessoas que usam tristeza e doença antes de usar roupas. Procuro por saúde visível e felicidade. As modelos deveriam sorrir e parecer vivas como era no início dos anos 90”.

Mario Boselli, chairman da Camera Nazionale della Moda Italiana, enviou carta elogiando a iniciativa de Borges e que “acha este assunto crucial para a indústria da modo do ponto de vista ético e moral”. Ele informou que tenta reverter o problema na Itália desde 2006 através de ações conjuntas com o governo local.

Também o diretor executivo do British Fashion Council, Simon Ward, apoia a preocupação do SPFW e reforça que este problema é muito sério. “Temos 14 recomendações para a saúde das modelos, e temos um plano de ação para a saúde delas feita em conjunto com a associação de agências de modelos do Reino Unido”, escreveu.

Houve repercussão junto a importantes jornalistas. Godfrey Deeny, um dos editores do “Fashion Wire Daily”, respondeu que “a iniciativa de requerimento de idade mínima e saúde é boa ideia”, e que está aberto a colaborar. Dasha Veledeeva, da “Harper’s Bazaar” na Rússia, coloca “a questão como muito séria e que todos temos que prestar atenção. A “Vogue Paris” respondeu apoiando.

Desde 2007 o SPFW é a única entre as principais semanas de moda do mundo a estabelecer novos padrões de participação nas passarelas para ajudar na prevenção de problemas extremos de saúde entre modelos. Junto com o Ministério Público de São Paulo, o evento estabeleceu normas para preservar a integridade das modelos presentes no evento e ter garantias de estarem aptas a exercer a profissão. Mesmo não sendo responsável pela contratação das modelos – o que é feito pelos estilistas diretamente com as agências –, a organização do SPFW percebeu a necessidade de interferir.

Entre as medidas em vigor atualmente, que apresentaram bons resultados, está a necessidade de atestado médico garantindo a plena saúde e condições de trabalho, além de não se permitir menores de 16 anos nas passarelas e exigir alvará para as menores de 18 anos e maiores de 16 atuarem. Toda esta documentação é fornecida pelas agências antes da semana de moda.

Além disso, o SPFW lançou uma campanha com cartilhas de conscientização impressas e online distribuídas a pais, modelos e agentes.

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